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Desafios da Doação de Sangue no Período de Férias

9 de dezembro de 2025

A doação de sangue é um componente essencial para o funcionamento adequado dos sistemas de saúde, sustentando procedimentos cirúrgicos, atendimentos de urgência, terapias hematológicas e o tratamento de diversas doenças crônicas. Entretanto, observa-se uma queda significativa no número de doações durante o período de férias, especialmente nos meses de verão e nos feriados prolongados. Essa redução, que ocorre de maneira recorrente, representa um desafio importante para a manutenção dos estoques hemoterápicos, principalmente porque a demanda por sangue permanece constante ou até aumenta nessas épocas.

 

Diversos fatores explicam essa queda sazonal. O primeiro deles está relacionado às mudanças de comportamento típicas das férias. Muitas pessoas viajam, afastam-se dos centros urbanos ou reorganizam suas rotinas, o que leva ao adiamento da doação de sangue. Como boa parte dos hemocentros depende fortemente da presença de doadores regulares, a ausência temporária desse grupo tem impacto imediato nos estoques. Além disso, condições ambientais e clínicas contribuem para reduzir ainda mais o número de doações.

 

Outro fator importante é a diminuição no alcance das campanhas de conscientização. Durante o período de férias, a população tende a direcionar sua atenção para atividades de lazer e descanso, reduzindo o impacto das iniciativas de incentivo à doação. A competição com conteúdos relacionados a viagens, festividades e entretenimento faz com que mensagens de mobilização tenham menor alcance.

 

Se por um lado a oferta diminui, por outro a demanda hospitalar não acompanha essa queda. Os hospitais continuam a realizar atendimentos de urgência, cirurgias de média e alta complexidade e tratamentos continuados, como transfusões para pacientes oncológicos e hematológicos.

 

Assim, forma-se um cenário que requer uma atenção especial em que a procura por sangue permanece elevada, enquanto a entrada de novas doações diminui.

 

A consequência direta dessa discrepância é a instabilidade nos estoques de sangue. Quando o volume disponível atinge níveis abaixo do ideal, os serviços de saúde são obrigados a adotar medidas rápidas e emergenciais. Em alguns casos, campanhas emergenciais são acionadas, mas elas nem sempre são suficientes para reverter rapidamente o quadro.

 

Diante desse desafio, diversas estratégias podem ser adotadas para mitigar o problema. Campanhas de conscientização iniciadas antes do período de férias têm demonstrado resultados mais eficazes do que ações emergenciais, especialmente quando direcionadas a públicos específicos, como doadores regulares e jovens adultos. Facilitar o acesso aos serviços de coleta também é fundamental: ampliar horários de funcionamento, disponibilizar unidades móveis e permitir agendamento online são medidas que reduzem barreiras e aumentam a adesão. Programas de fidelização, lembretes automatizados e parcerias com empresas e instituições educacionais também são ferramentas úteis para reduzir o impacto da sazonalidade.

 

A redução das doações de sangue no período de férias, embora previsível, exige planejamento contínuo e ações coordenadas. Compreender seus determinantes e adotar estratégias preventivas é essencial para garantir a estabilidade dos estoques e a segurança dos pacientes que dependem de transfusões. A promoção da doação voluntária e altruísta deve ser tratada como uma política constante, que ultrapassa momentos de crise e reforça a importância da participação ativa da sociedade em um processo vital para a saúde pública. A solidariedade é um presente que nunca saí de época e que jamais deve tirar férias.

Nágela Lima

Nágela Lima

Captação de Doadores